Atentado,

ORLANDO: 50 TONS DE INTOLERÂNCIA!

18:42 Equipe Das Letras 1 Comments

"Eles julgam sinceramente que estão agindo corretamente." (E. W. Elkington, 1907, sobre os canibais da Nova Guiné)

Embora fundamentalistas de muitas religiões ainda possam afirmar que seus códigos resultam de decretos divinos, provavelmente é correto dizer que agora a maioria das pessoas reconhece que os códigos morais são inventados pelo homem: trata-se de regras de comportamento elaboradas por grupos de pessoas ou indivíduos para tornar a existência mais agradável para a maioria.

Hoje quando o mundo depara-se chocado com mais um atentado terrorista, assim classificado pelas autoridades, e também um atentado contra uma minoria, assim compreendido por muitos, não quero aprofundar-me em discorrer sobre moralidade e tampouco sobre a gênese moral deste ou daquele povo, continente ou sociedade. Mas precisamos fazer uma reflexão sobre o fato de estarmos regredindo a um ponto de observarmos comportamentos da sociedade pré-civilizada.

Arrisco dizer que temos regredido para ainda antes desse tempo, pois todas as sociedades pré-civilizadas foram aglutinadas por concepções éticas em grande parte não declaradas, mas sempre compreendidas. Hoje isso tudo parece não fazer mais sentido.

Anthony Storr, disse que pode-se supor que desde o começo da vida existe um impulso para a autorrealização, para encontrar a própria identidade como pessoa, e que essa é uma força tão poderosa quanto o sexo.

Penso que a intolerância nunca foi tão alimentada na história, ao menos no ocidente, como na atualidade. No Brasil, vivemos uma crise comportamental onde já é possível afirmar que grupos ideológicos, independente da ideologia, vivam a plena neurastenia, espalhando ódio, intolerância e violência até onde seus pensamentos sejam capazes de chegar.

Vemos uma esquerda apossando-se por completo das pautas das minorias, em especial as da comunidade LGBT, dos direitos humanos, chamando para si tais agendas e acusando a todos que não comunguem de suas ideologias de também não comungarem de tais agendas. Um acinte. De outro lado vemos uma direita que parece ter aberto mão de tais agendas, ainda que muitos identifiquem-se com elas, mas que preferem propagar o ódio a dialogar ou sequer tocar em um assunto que "pertença" ao outro lado. Outro acinte.

Vemos os pobres pouco escolarizados, e os tais novos ricos também pouco escolarizados enchendo as igrejas, lotando os templos, e substituindo a cultura secular pelo catequismo teológico, formando-se assim uma geração de bestas teológicas. Não dominam nenhum assunto que não esteja no único livro que conhecem, a bíblia, ou nos que dela derivam. Rubem Alves já dizia que não havendo dinheiro para o lazer, as igrejas se enchem. A pobreza leva a santidade.

O Estado Islâmico tomou para si a autoria do atentado em Orlando, na Flórida. O pai do assassino disse que o filho era homofóbico, que estaria profundamente incomodado em ver um casa gay beijando-se em público. A esposa do terrorista por sua vez, disse que ele constantemente a espancava. Os fatos são esses. Mas pairam agora as perguntas acerca dessa barbárie: É possível que uma pessoa nasça homofóbica? Ou quem sabe seja possível a um ser humano nascer assassino? Ladrão? Estuprador?

Claro que a resposta a essas perguntas é NÃO! Ensina-se isso, aprende-se, constrói-se o ser capaz de tais atrocidades. Nisso volto ao fato de afirmar que nossa sociedade ocidental, e principalmente brasileira, beira a pré-civilização. O que estamos ensinando a nossas crianças? Aliás, não se esta ensinando, pois quando tenta-se levar qualquer tema referente a diversidade nas escolas, Bolsonaros e Felicianos surgem aos batalhões para defender a sagrada instituição da família.

Aliás o conceito de família no Brasil nunca esteve tão distorcido. A "família" brasileira boicota lojas que desconstroem o pensamento conservador de gênero. Boicota novela que tem mulheres lésbicas casadas, para assistir uma novela bíblica em um canal mantido com dinheiro dos fiéis, que na grande maioria vive na plena pobreza, mas em nome da fé. Essa mesma família cria, ensina e constrói os intolerantes.

É leviano dizer que a religião islâmica é responsável pela intolerância, pela violência em Orlando, e pela morte das 50 pessoas. A religião não é responsável, mas as pessoas por detrás das religiões. Quem da suporte aos bárbaros, são outros bárbaros. Pessoas. Deixemos para trás o pensamento que procura culpar a religião, o partido politico, o país onde vive, isso é estapafúrdio, o problema são as pessoas que ensinam pessoas a cultivarem aquilo que o ser humano tem de pior.

Não precisa amar. Mas é proibido odiar. Não precisa amar. Mas é crime pregar o ódio. Homofobia se ensina, não se nasce assim.

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Um comentário:

  1. Assunto muito complicado... agora, o respeito às diferenças deve ser um princípio!
    Um abraço!

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