ME BEIJE SÓ MAIS UMA VEZ!!

18:23 Unknown 1 Comments

A música tocava alto, as vozes tornavam-se coadjuvantes naquele ambiente, quase que imperceptíveis, as pessoas conversavam, falavam, diziam, discursavam, mas ninguém podia ouvir devido ao som da música que exultava no grande salão, decorado com grandes colunas douradas, veludo carmim, e um chão do mais puro mármore. Era um dos mais famosos cafés de Lucerna, na Suíça. Eu no entanto se quer percebi a música, a bem da verdade, naquele momento pude notar apenas sua voz, que não era a mais doce, eloquente, ou grave do salão, mas era a voz de quem eu amava, de quem tinha as mãos que eu queria tocar, os olhos que eu desejaria ver mais do que tudo, e os lábios, ah! Os lábios! Quantas noites implorei aos céus para sonhar com o momento onde nossos lábios se tocavam, lentamente, como em um devaneio psicodélico. Minhas mãos, trêmulas pelo nervoso do momento e pelo repente de paixão acariciando cada milímetro do seu rosto, tal qual o mais hábil pianista toca as teclas de seu piano ao que compõe sua mais bela sinfonia. Era apenas sonho, imaginação, ele estava do outro lado do salão. 

Respirei fundo, pensei em um rompante de coragem que todos os meus sonhos poderiam ser traduzidos em verdade, em realidade, que não precisaria mais implorar aos céus por um beijo pois eu estava ali, viva, e caberia somente a mim fazer o futuro ser agora. Levantei-me da mesa, alinhei o fino bleizer preto que usava por cima de uma camisa de seda, coloquei-me ereto, ombros para cima, passos firmes e longos, passos de quem esta realmente determinado, ele levanta, segura duas taças de vinho em suas mãos angelicais, eu apresso o passo, é como se o rompante de coragem tivesse tornado em desespero, eu precisava chegar até ele, eu precisava dizer boa noite, eu queria sentir o seu perfume, olhar seus olhos, quem sabe tocar a sua mão. Ele virou, em minha direção, minhas pernas quiseram estremecer, mantive-me firme, ele sorriu olhando em minha direção, já podia ver seus olhos, grandes, escuros, cílios longos, eu sorri de volta, talvez o mais belo de todos os meus sorrisos, já estava acontecendo, frente a frente, eu e ele, nós dois, a completude da sinfonia, o pedaço de paraíso, o sonho em plena realidade. Quer vinho? Ofereceu o dono da mais bela voz, a única que eu escutara a noite toda. Aceitei, claro que sim. Era um vinho tinto, um merlot, eu detesto uvas merlot, na verdade eu detestava, agora são minhas preferidas. Ao que me alcançou a taça, beijou-me o rosto, dando-me boa noite, falando sobre a festa, a delicadeza dos doces, a linda decoração, o lugar escolhido, eu, apenas concordava com tudo, meu olhar havia se perdido entre seus olhos, sua boca, seu mais profundo abismo. Vamos tomar ar? Com a neve derretendo? Quando é mais frio, úmido e gelado? Sim, sim, sim, eu quero, quero mais do que a própria vida tomar ar com você e morrer congelado.
Na varanda, protegida por um vidro espesso, com apenas uma entrada de ar, lindos bancos com lã de ovelhas servindo de decoração e aquecimento, tomou de minhas mãos a taça, colocou-as sobre a mesa, apontou para o imenso sofá, aquecido sabe-se Deus como, sentei, ele sentou, falou sobre a noite, como ele admirava os astros, mostrou-me uma estrela, a torre de uma das igrejas que ele mais gosta, citou algum tipo de arquitetura que já não posso lembrar, tomou suas as minhas mãos, apertou-as com força, eu quase desmaiei de amor, em alguns momentos a felicidade não cabe mais dentro do coração, ai então se descobre que é por isso que ela não dura para sempre, seria fatal. Ele acariciou minhas mãos com as suas, levou-as perto de seu rosto, sentia-me inerte, sem reação, ação ou qualquer outra coisa que dependesse de mim, foi quando ele unindo minhas mãos, beijou-as da forma mais singela, doce e sensível que nem mesmo um anjo do paraíso poderia fazê-lo, levantou-se, puxando com ele a ficar em pé, olhou no mais profundo dos meu olhos, passou suas mãos em meu rosto, deslizando cuidadosamente cada um de seus dedos, chegou mais perto, eu podia sentir seu perfume, seu coração batia acelerado em uma conjunção com o meu já arrítmico e a beira do colapso, esqueci-me do frio, da vida, de quem eu era, fui ou viria a ser, suas mãos seguraram firme mas delicadamente meu rosto, seus lábios, lindos lábios rosados, tocaram meus lábios, eu nunca mais queria parar, não poderia haver paraíso depois daquele momento. Ele se despediu, disse apenas que precisava ir, já era tarde, estava de carona, deu-me as costas, e, em sua última frase disse que já tinha meu endereço, do hotel, de onde eu partiria em três dias.
Não poderia me beijar apenas mais uma vez? Somente mais um minuto para vivenciar o que presenciam os anjos no paraíso? Depois volte para lá, mas não agora, fique, não saia assim, não ouse me ensinar as notas do amor e depois roubar-me o instrumento. Ele se foi, eu me sentei, imaginando tudo acontecer de novo, de novo, de novo... Lembrei-me do dia em que o conheci, o primeiro em solo suíço, quando derrubei um cálice no castelo de Chillon em uma visita turística. Eu o vi apenas mais uma vez, em um jardim, em meio a flores e pássaros, mas no paraíso, ou no que temos por visão objetiva de paraíso, tive apenas uma revelação, apenas um insight do que realmente é amor e o que é paixão. Nos olhamos, sorrimos, caminhamos para lados opostos, voltamos as nossas casas, aos nossos países, e de tudo aquilo, de todo o ápice do meu enredo, ficou apenas a boa sensação de alguns dias de paixão. Quanto ao amor? É outra coisa.

*Este é um texto de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. 

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Um comentário:

  1. Patrick quanto sentimento mergulhado nesse texto? Vai escrever bem assim na minha estante!!! Quando sairá esse seu livro??? Magnífico! Grande abraço! Fer Hillebrandt

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